SP vai testar novo medicamento que previne infecção pelo vírus da aids
Saúde recruta voluntários para estudo sobre produto que poderá ser uma alternativa ao comprimido hoje usado na profilaxia pré-exposição (PrEP); CRT DST/Aids e HCFMUSP estão entre os quatro serviços brasileiros que participam da pesquisa internacional
A Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo vai testar um medicamento inédito capaz de prevenir a infecção pelo HIV, vírus causador da aids. A iniciativa faz parte de uma pesquisa internacional, que integra dois serviços estaduais de referência em SP, entre quatro unidades brasileiras.
Para isso, o Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids inicia campanha, em junho, para promover a pesquisa de um novo método de prevenção do HIV, com injeções bimestrais de um novo medicamento, o cabotegravir. A pesquisa tem financiamento dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos e pretende recrutar 177 homens cisgêneros gays e bissexuais, mulheres trans e travestis.
No HCFMUSP, a pesquisa também está em andamento e visa recrutar 177 pacientes, contando até o momento com 100 participantes.
As injeções de cabotegravir são uma aposta para a evolução da profilaxia pré-exposição (PrEP), método que consiste no uso programado de medicação anti-HIV com o objetivo de prevenir a infecção, mesmo que haja relações sexuais sem preservativo. Até o momento, a única forma de PrEP aprovada é a oral, feita com comprimidos de tenofovir-entricitabina.
Disponível no SUS desde 2018, a PrEP oral é indicada para quem tem um alto risco de se infectar, mas tem dificuldade de usar preservativo de forma consistente. A PrEP tem se mostrado efetiva em controlar a epidemia em diferentes cidades do mundo. Sua incorporação no SUS foi uma das apostas para responder aos dados epidemiológicos de HIV/Aids no país. A taxa de detecção de novos casos de aids entre rapazes de 15 a 19 anos, por exemplo, quase triplicaram nos últimos dez anos, saltando de 2,4 para 7,0 casos por 100.000 habitantes. Homens gays e bissexuais e mulheres trans e travestis são os grupos mais afetados.
No entanto, para os especialistas, nem todo mundo se adapta à PrEP oral. “Tomar um comprimido todos os dias pode ser um desafio para algumas pessoas, pela instabilidade de rotina ou por querer ocultar da família, por exemplo. A ciência da prevenção ao HIV caminhará para uma diversificação tal como ocorreu, no passado, com os anticoncepcionais, que existem em diferentes formulações orais, injetáveis, implantes e outras”, afirma o infectologista do CRT DST/Aids, José Valdez Madruga.
A praticidade e a discrição das injeções de longa duração são atraentes. Uma pesquisa online feita com mais de quatro mil usuários de aplicativos de encontros sexuais, feita para um estudo da Brown University, demonstrou que 73% deles têm interesse na PrEP injetável, e que 47% preferiria a opção injetável à oral.
O medicamento
O cabotegravir é um novo medicamento anti-HIV que está sendo estudado em paralelo, tanto para prevenção quanto para o tratamento de pessoas vivendo com HIV/Aids. Em março, foram apresentados resultados dos estudos de tratamento – feito com injeções mensais de cabotegravir e rilpivirine. O tratamento injetável tem se mostrado efetivo, seguro e com boa aceitabilidade.
Para prevenção, o cabotegravir está sendo estudado isoladamente e em intervalos maiores. O estudo está comparando o cabotegravir injetável com a PrEP oral. Metade dos participantes receberá comprimidos diários de PrEP oral e injeções de placebo a cada dois meses. A outra metade receberá injeções bimensais do cabotegravir e comprimidos diários de placebo. Nem a equipe nem os participantes saberão quem está em qual grupo até o fim do estudo. A metodologia, conhecida como duplo-cego, visa a impedir que alterações de comportamento confundam o resultado da pesquisa. Todos os participantes receberão aconselhamento e acompanhamento clínico em saúde sexual.
Para gerar engajamento, conexão afetiva e senso de comunidade entre gays cisgêneros, mulheres trans e travestis, a campanha “PrEP Injetável” vai contar com ações performáticas de recrutamento, divulgação em espaços de encontro LGBT e conteúdo em mídias sociais.
A pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética em Pesquisa de todos os centros onde está sendo realizada. Além disso, no CRT DST/Aids existe o Conselho de Acompanhamento Comunitário (CAC), formados por representantes da comunidade LGBT e outros, que estão acompanhando o projeto.
Quem pode participar?
Homens cisgêneros gays e bissexuais, mulheres trans e travestis. A pessoa também deve ser HIV-negativa, maior de 18 anos e não ter aplicação de silicone na nádega. A participação na pesquisa é uma forma de ativismo – uma maneira de contribuir para a saúde sexual futura da própria comunidade.
Para participar do estudo, o interessado deve entrar em contato com a Casa da Pesquisa do CRT DST/Aids.: (11) 5087-9903, WhatsApp (11) 94532-3864 ou pelo e-mail pesquisa@crt.saude.sp.gov.br.
No HC, o contato pode ser feito pelos telefones (11) 94996-6134 e (11) 2661-2277 ou pelo e-mail agendamento.estudo@gmail.com.
A pesquisa está também ocorrendo na Fiocruz (Rio de Janeiro) e no Hospital Conceição (Porto Alegre), além de outros seis países - Estados Unidos, Argentina, Peru, África do Sul, Vietnã e Tailândia.
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